quinta-feira, 18 de março de 2010

* DE SANTA À PUTA *


Marie terminava de pôr o jantar sobre a mesa naquela noite. O marido chegara com a cara amarrada, como sempre. Já não sabia mais sorrir. Chegava como um porco e sentava à mesa, como um porco comia e depois como um porco roncava no velho sofá da sala.

Nunca tiveram filhos. Sempre pensava que era 'seca' como o marido lhe fazia acreditar. Na igreja, aos domingos, ouvia o pastor falando sobre ter fé, que se alcançaria a glória. Glória só teria mesmo no Céu. E na Terra, seria só esse sofrimento?

Levantava, trabalhava na quitanda do Seu Joaquim, voltava pra casa. Tudo como autômato. Não sabia mais o que era sorrir de felicidade mesmo. Sorria mais por fingimento.

A vida ali naquela cidadezinha medíocre era sempre a mesma. Casa, trabalho, casa, marido, choro, tristeza... E noites insones. Marie parecia com uma santa mesmo. Nunca reclamava. Nunca falava mal de ninguém, tinha um comportamento irrepreensível.

Mas naquela noite, ao ouvir o marido roncar pelo décimo ano seguido, ela chorou lágrimas silenciosas e quentes. Não suportava mais aquilo. Não queria mais pra ela aquela vida.

Casara jovem, virgem, pura e imaculada. E logo na primeira noite descobriu o significado do sexo. Coisa suja, dolorida e pegajosa. O marido quase a partira ao meio. Passou a odiar o sexo.

Nunca lera um romance, ao contrário de todas suas amigas. Não acreditava em romance, em amor. Dizia que queria viver com os pés no chão e que os romances - tão irreais - embotavam a razão de quem os lia.

Parecia que Marie vivia no século passado. Roupas pesadas, escuras, sóbrias, sempre com mangas compridas. Nunca usava calça. Maquiagem também não. Porém Deus havia-lhe abençoado com um corpo escultural. Firme e jovem. Longas pernas, lindas curvas. Mas ninguém as via. Estavam sempre encobertas por antiquadas roupas. Nada fazia pra realçar aquela beleza quase divinal.

Lábios rosados, olhos azuis, pele branca e cabelos negros como a noite sem lua. Nunca soltava as madeixas, cortava apenas as pontas que já passavam da altura do quadril. Davam um trabalhão danado a ela, e usava-o sempre numa longa trança.

Chorou então, naquela fatídica noite. Chorou muito, até não haver mais lágrimas para chorar. Depois, dormiu como sempre fazia após uma dessas suas depressões. E acordou conformada com sua sina, também como sempre. Mas já não era mais a mesma. Alguma coisa havia mudado nela durante o sono. Só não sabia bem o quê.

Foi trabalhar na quitanda, como fazia todos os dias, e sentiu-se mais jovial, mais alegre. Seu Joaquim até estranhou seu comportamento. Apesar de respeitar muito a jovem evangélica, era um sujeito libidinoso. Percebera suas formas volumosas sob as pesadas roupas desde que a contratou a pedido do marido, que alegou vir passando por dificuldades financeiras. No íntimo achava que ela havia feito sexo gostoso na noite anterior, daí o motivo do seu contentamento. Mas não comentou nada com a funcionária, pois ela poderia pensar que era enxerimento. Marie conhecia sua mulher e suas filhas, e ele também não queria problemas com o marido dela. E o dia passou depressa.

À noite, enquanto se vestia para ir ao culto com o marido, sentiu-se incomodada ao vestir suas roupas antiquadas. Passou algum tempo admirando-se diante do espelho do banheiro, coisa que nunca havia feito na vida. Levantou os seios com as mãos, desejando tê-los mais firmes. E achou horrível aquela moita entre as pernas. Não se depilava fazia tempos. Talvez o tempo que estava sem ter relações sexuais. Procurou uma indumentária mais leve e não encontrou. Prometeu comprar alguma coisa mais jovial assim que recebesse a semana de salário da quitanda. E saiu de braços com o marido em direção ao ponto de ônibus, descendo três paradas depois quase defronte ao templo onde costumavam ir orar sempre que havia assembleias.

Chegaram atrasados e não encontraram mais lugar para sentar. Não sabia por que, o templo estava lotado. Só depois percebeu o motivo: o pastor era novato. Um jovem bonito e eloquente com quem Marie simpatizou imediatamente. Não gostava do antigo pastor, por isso quase não ouvia o seu discurso. Passava o tempo todo de cabeça baixa, orando para o Senhor. Mas iria dedicar a partir de então a sua total atenção ao belo pregador. De repente, sentiu-se ruborizada com esses pensamentos. Nunca ousara pensar em outro homem que não fosse seu marido. Baixou a cabeça, envergonhada. Não queria que o marido percebesse o seu desconforto. Foi quando levantou novamente a cabeça que teve certeza que algo tinha mudado dentro dela. Havia sentido um arrepio na nuca e olhou para trás, em direção à entrada do templo. Foi quando viu um homem totalmente nu adentrar o recinto e se postar a poucos metros dela.

Olhou em volta, para sentir a reação das pessoas que estavam no culto, mas ninguém parecia incomodado com o homem, que aparentava uns trinta e poucos anos de idade. Achou que o Cão a estava tentando e só ela via o desconhecido. Porém, algumas mulheres o cumprimentaram respeitosamente, e isso derrubou por terra a sua teoria. Sim, lá estava aquele homem lindo, mais bonito que o pastor, totalmente nu entre as pessoas dentro do templo. Tinha um livro nas mãos que mantinha cruzadas cobrindo seu sexo. Mas o livro não era uma Bíblia. Tinha a capa preta, como as tradicionais, mas havia outra coisa escrita na capa. Apurou melhor a vista e leu: Kama Sutra. Já ouvira essas palavras, mas não sabia bem o que significavam. Aí o desconhecido olhou em sua direção.

Percebera que ela estivera olhando o tempo todo para ele e cumprimentou-a com um aceno de cabeça e um sorriso delicioso. Marie corou mais uma vez e baixou a cabeça novamente, para o marido não perceber. Entretanto voltou a olhar em sua direção e ele ainda tinha a atenção voltada para ela. Fez novo aceno em forma de cumprimento, dessa vez afastando as mãos que cobriam seu sexo. E Marie viu claramente o enorme pênis em repouso entre suas pernas. Quase que seu coração pula pela boca. Sentiu-se incomodada e cochichou ao ouvido do marido que queria voltar pra casa. Alegou não estar se sentindo bem. Ele resmungou uma imprecação, mas fez sua vontade. Ao sair do templo, Marie ainda deu uma olhada para trás, procurando avistar o desconhecido. Ele estava lá, nu, acompanhando-a com o olhar e aquele sorriso maravilhoso nos lábios.

Marie passou muito tempo se banhando. E nada daquela sensação estranha passar. Os seios estavam intumescidos e sentia uma dorzinha no pé da barriga. Achava que estava para menstruar, mas lembrou-se que não fazia nem uma semana que haviam acabado suas regras. A boca estava seca e sentia um formigamento esquisito no grelo. Queria coçar muito ali, mas evitava essa prática pecaminosa. Mas não se conteve. Untou os dedos com um creme e levou-os à vulva, massageando lascivamente ali.

Foi como se seus dedos possuíssem eletricidade, que se espalhava por eles e sentia pulsando lá no íntimo. O útero enfurecido clamava por isso. E provavelmente até sua alma também...

Entrou num desvario. Esqueceu da vida, dos problemas, do marido, do 'pecado' que estava para cometer. Olhando à sua volta, viu em cima da pia a escova de cabelos de cabo grosso. Nem piscou. Pegou-a e untou-a com creme. Deitou no chão gelado do banheiro que contrastava com sua pele em brasas, abriu bem as pernas enfiou a escova na vagina - vagarosa e profundamente - e se masturbou ofegando. Se existia inferno nem queria saber, pois se morresse sentindo aquele prazer tão imenso, que fazia seu corpo tremer, nem se importava pra onde iria.

Descargas múltiplas faziam Marie entrar num torvelinho de sensações nunca sentidas. Da sua garganta saiam gemidos primitivos, impelidos pela força natural que há nas mulheres em cio. Quando conseguiu se controlar um pouco, sentiu que de sua vulva escorria algo parecido com uma geleia translúcida. Levou a mão a boca e sentiu pela primeira vez o gosto do seu tesão.

Foi tirada do transe quando seu marido bateu na porta com violência.




***FIM DA PRIMEIRA PARTE ***


* Texto escrito por LadyM e Ehros Tomasini

2 comentários:

Sejam muito mal-intencionados! Beijos tântricos!